O Corcunda de Notre-Dame, Victor Hugo - 7


CAPÍTULO 7
Uma lágrima por uma gota d’água


Enquanto isso, um grande número de espectadores se reunia na Praça da Greve para assistir ao castigo de Quasímodo. Esta multidão não manifestava impaciência. Antes, divertia-se em observar o pelourinho, uma espécie de monumento extremamente simples composto por um cubo oco de alvenaria de cerca de três metros de altura com uma escada de pedra bruta que levava à plataforma superior, sobre a qual se via uma roda horizontal de carvalho. A ela o condenado era amarrado de joelhos e com os braços atrás das costas. A roda girava graças a uma roldana escondida dentro da construção, assim o rosto do réu era mostrado sucessivamente a todos os pontos da praça. A isto se costumava chamar "girar um criminoso".
O condenado finalmente chegou, amarrado a uma carroça, e quando foi içado sobre a plataforma pôde ser visto de todos os pontos da praça. Preso à roda, uma grande vaia, misturada com risos e aplausos, estourou. Quasímodo havia sido reconhecido.
Era realmente ele, estranhamente de volta: preso ao pelourinho na mesma praça onde, na véspera, havia sido saudado e aclamado Papa dos Loucos!
Logo, Michel Noiret, o arauto-mor do rei, pediu silêncio e proclamou a sentença, de acordo com a determinação e a ordem do prefeito. Em seguida, ele se enfiou atrás da carroça com outras pessoas.
Quasímodo, impassível, sequer piscou. Qualquer tipo de resistência era impossível para ele, devido às correntes e correias que o prendiam. Ele foi carregado e amarrado, sem reagir. Não era possível perceber qualquer expressão em sua fisionomia, apenas o pasmo de um selvagem ou de um idiota.
Ele foi colocado de joelhos sobre a roda e sua camisa foi retirada até a altura da cintura. Preso por um novo conjunto de correias, de vez em quando, bufava ruidosamente.
Uma gargalhada explodiu na multidão quando a Corcunda de Quasímodo e seu peito de camelo foram expostos. No meio de toda a zombaria, um homem uniformizado, pequeno e de aparência robusta chegou perto do réu. Era Pierrat Torterue, carrasco do Châtelet.
Ele colocou no canto do pelourinho uma ampulheta preta. Em seguida, tirou o casaco e tomou em sua mão direita um chicote pequeno e fino com longas tiras brancas, retorcidas, cobertas de entalhes em metal. Com a mão esquerda, levantou com negligência a camisa em torno do braço direito até a axila. Por último, bateu o pé, e a roda começou a girar. Quasímodo balançou em suas amarras. O susto que se abateu abruptamente sobre seu rosto disforme fez com que as gargalhadas crescessem.
De repente, no momento em que a roda exibiu as costas de Quasímodo, Pierrat levantou o braço e as finas tiras assobiaram no ar, caindo sobre os ombros do miserável.
Quasímodo saltou sobre si mesmo, começando a compreender o que se passava.
Um segundo golpe abateu-se sobre ele, depois um terceiro e um outro e assim continuamente. A roda não cessava de girar, nem os golpes de cair.
O Corcunda retomou, pelo menos em aparência, a indiferença inicial, enquanto tentava romper as amarras em segredo. Seu olho iluminou-se, os músculos enrijeceram e as correias e correntes se esticaram. O esforço era potente, prodigioso e desesperado, e ele caiu esgotado. O susto deu lugar a um sentimento de amargor e profundo desânimo. Ele fechou o olho, deixou a cabeça tombar sobre o peito e se fingiu de morto. A partir daí, não se moveu mais.
Por fim, um funcionário da corte, que permaneceu ao lado da escada desde o início da execução, estendeu sua vara de ébano na direção da ampulheta. O carrasco parou e a roda também. O olho de Quasímodo reabriu lentamente. O flagelo havia terminado.
Dois criados do carrasco lavaram os ombros do condenado, friccionaram uma pomada qualquer que fechou imediatamente todas as feridas e lançaram-lhe sobre as costas uma espécie de camisão amarelo sem mangas.
Mas não estava tudo terminado ainda. Faltava ao sineiro sofrer a hora de pelourinho que o senhor Florian Bardebienne prudentemente havia acrescentado à sentença de Roberto d'Estouteville. Inverteu-se assim a ampulheta e o Corcunda foi atado à tábua, de modo que a justiça fosse feita até o fim.
O suplício não havia terminado. Choviam milhares de ofensas, vaias, risos e pedras daqui e dali. O tempo passava e ele estava havia uma hora e meia, pelo menos, sendo ridicularizado.
De repente, ele se agitou com um desespero redobrado e fez tremer toda a estrutura que o sustentava. Quebrando o silêncio que havia mantido até então, ele gritou, com uma voz rouca e furiosa:
- Água!
Esta exclamação de sofrimento, longe de atrair simpatia, serviu para aumentar a diversão do bom povo parisiense que cercava a escada. Ao fim de alguns minutos, Quasímodo lançou sobre a multidão um olhar desesperado e repetiu com uma voz ainda mais aflita:
- Água!
Todos riram, mas neste momento uma moça saiu do meio da multidão, acompanhada por uma pequena cabra branca de chifres dourados. Ela segurava um tambor na mão e o olho de Quasímodo cintilou: era a cigana a quem ele havia atacado na noite precedente.
Ele não duvidou de que ela também viesse se vingar como todos os outros e a viu subir a escada rapidamente. A cólera e o despeito o sufocavam. Ele desejou destruir o pelourinho e, se um raio lançado de seu olho tivesse o poder de fulminar, a egípcia seria transformada em pó antes de chegar ao topo da plataforma.
No entanto, ela aproximou-se do réu sem dizer uma palavra e, retirando uma garrafa da cintura, levou-a devagar aos lábios do miserável. Então, daquele olho tão seco e irritado, rolou uma grande lágrima que escorreu lentamente ao longo do rosto disforme, contraído pelo desespero. Era a primeira vez, talvez, que o desafortunado chorava.
A cigana apoiou, sorrindo, o gargalo na boca de Quasímodo. Ele bebeu em tragos longos, pois tinha uma sede ardente. Quando terminou, esticou os lábios para beijar a bonita mão que acabara de ajudá-lo, mas a moça esquivou-se com um gesto assustado de criança que teme ser mordida por um animal. Então, o pobre surdo fixou sobre ela um olhar cheio de uma tristeza inexprimível.
Era um espetáculo tocante ver a bonita moça, pura e encantadora, acorrer ao socorro de tanta miséria e deformidade. Todo o povo foi tomado pela cena, pondo-se a gritar:
- Viva! Viva!
Neste momento a enclausurada lançou uma maldição sinistra:
- Maldita seja, rapariga do Egito! Maldita!
Esmeralda empalideceu, descendo do pelourinho tremendo. Logo, chegou a hora de libertar Quasímodo e a multidão dispersou-se.
Perto da Ponte Grande, Mahiette, em companhia das duas companheiras, parou abruptamente:
- A propósito, Eustáquio, o que você fez com o bolo?
- Mãe, um cachorro deu uma mordida nele, e eu também!
- Criança terrível! - disse a mãe, sorrindo.